Algumas Palavras...


"Sem a curiosidade
que me move,
que me inquieta,
que me insere na busca
não aprendo
nem ensino."
(Paulo Freire)

12 de julho de 2012

Festas Juninas: à caipira ou à gaúcha?

FESTAS JUNINAS: À CAIPIRA OU À GAÚCHA?

   Estamos no mês de junho. E nas ruas, cruzamos com adultos conduzindo meninos e meninas pela mão, com as suas mochilas escolares, travestidas de caipira: calças apertadas e à meia-canela, com remendos multicolores, dentes pintados de preto, bigodes de tinta "guache", vestidinhos de chita, chapéus de palha desfiada, tranças compridas, faces pintadas de vermelho. Nas escolas, vão comemorar o espírito das festas juninas... parece um carnaval de inverno, e o que é pior: crianças fantasiadas de caipira, ridicularizando um tipo humano brasileiro de outra região de nosso país que, em verdade, não é um palhaço como querem que os representem.
  Lamentavelmente, algumas escolas, orientados por mestres desinteressados com a divulgação e preservação do patrimônio sócio-cultural do seu povo, programam festas juninas e induzem as crianças a se vestirem à caipira, fazendo-as executarem danças do nosso folclore gaúcho, como o pezinho, o maçanico, etc. Um verdadeiro anacronismo cultural: caipiras (ridicularizados) executando danças tipicamente gaúchas!
Pois bem, o movimento tradicionalista o organizado já completou mais de 50 anos de existência, com mais de 1500 entidades filiadas, inclusive no exterior, divulgando e cultuando as nossas mais caras tradições, com acesso direto no ensino básico, através do projeto "M.T.G. vai à escola". E mesmo assim, nos surpreende que, diante do trabalho ativo que o M.T.G. vem realizando nos grupos locais, nos bairros, nas cidades, na mídia, e a própria inserção da disciplina de folclore nos currículos escolares, alguns mestres cometam este desrespeito com as tradições e costumes dos nossos gaúchos e de nossos irmãos paulistas.
   As festas juninas no RS, no seu real sentido folclórico, é comemorada com a nossa própria indumentária, que é simples, feita para pessoas simples: bombacha, lenço no pescoço, vestido de prenda, botas, guaiaca, etc. E a comemoração atinge o seu ponto máximo no dia 29 de junho, dia nosso padroeiro, São Pedro: com a fogueira característica (base triangular), mastro com bandeira, danças como o pezinho, o balaio, o maçanico; comendo arroz-de-carreteiro, paçoca de pinhão, manapança, galinha encilhada, batata-doce; bebendo quentão, pula-macaco ou concertada.
   Festejar o dia de São Pedro, além do sentido hilariante e divertido da festa, com as suas brincadeiras próprias, tem um sentido de religiosidade e respeito pelas coisas que fazem parte do nosso acervo cultural, do qual temos o maior orgulho e o que nos torna diferentes e respeitados dos demais irmãos brasileiros. Nós, os gaúchos, temos tradições a cultivar e história para contar. Não precisamos importar nada de nossos patrícios e muito menos do além-fronteira. Somos dentro da federação, um povo que o cadinho das guerras e revoluções fez temperar um tipo humano, cuja presença em qualquer lugar, se faz respeitar. Vamos respeitar as culturas de nossos irmãos e não deturpá-las, e comemorar as festas juninas da forma como nos sentimos gaúchos de verdade: sem máscaras ou fantasias, de cara limpa!

JUAREZ NUNES DA SILVA
Academia de História Militar Terrestre do Brasil 
 Instituto de História e Tradições do RS 
Presidente da Associação dos Artilheiros Antiaéreos 
Vice-Presidente da Liga de Defesa


Um comentário:

  1. Muito interessante o texto. Estou morando no nordeste, antes estava em Caxias do Sul e pude conhecer as duas formas de ver esta comemoração. Também acho que "fantasiar" as crianças e sequer fazer um projeto ensinando-as o significado do que estão fazendo não é legal. Bem como em plena semana farroupilha eu pergunto para uma criança na escola se ela é gaúcha ela me diz que não porque não usa as vestimentas (mesmo tendo nascido no RS). Acho que para trabalhar temas, há a necessidade de trabalhar também o significado. Assim não se torna mera fantasia.
    Aqui no nordeste, no meu caso, Sergipe, os festejos juninos são tão importantes quanto o natal. O que chamamos de "fantasia", para eles são trajes que têm uma história e eles conhecem a história. Tudo o que eu perguntei eles sabiam responder, desde o motivo das fogueiras, até a formação da quadrilha e a função de cada um dentro dela, bem como de onde vieram as roupas. É muito bonito e emocionante, assim como é o movimento tradicionalista no RS. Mais uma vez concordo com o autor do texto: precisamos explicar para as crianças de onde vem nossas ações; precisamos deixar claro que somos sujeitos históricos e para tudo tem um motivo. Sem dúvida a comemoração fica mais bonita e, inclusive, abre espaço para a tolerância entre as diferentes culturas, entendo que não há melhor ou pior,mas apenas diferentes, que se completam quando falamos do Brasil, um país continental, rico em tradições. Afinal, existem as tradições gaúchas, assim como existem as sergipanas, as maranhenses, etc. Acredito que se defendemos um ensino integral, então é interessante não ficarmos olhando somente o nosso Estado e partimos para as trocas culturais, porém, entendo o que elas significam.
    Meu marido foi escoteiro por mais de 10 anos em Porto Alegre e eles faziam trabalhos de pesquisa e apresentação de diferentes culturas tanto brasileiras quanto de outros países.
    O professor ou a professora que consegue fazer isso, realmente tem um belo projeto nas mãos.

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